“Livraria Cultura corre contra o tempo para reverter falência na Justiça”
Varejista junta documentos para comprovar que recuperação vem sido seguida e salvar operação.
O presidente da Livraria Cultura, Sergio Herz, recebeu com surpresa o pedido de falência da empresa por parte da Justiça nesta quinta-feira, dia 9. A decisão foi tomada após mais de quatro anos do pedido de recuperação judicial da empresa, quando foi informado pela varejista um montante devido de 285,4 milhões de reais. Em mensagem a VEJA, Herz prometeu lutar para reverter a falência – a rede de livrarias encontrou-se em situação semelhante em 2020, mas por desentendimento com credores. A Cultura pretende, nos próximos dias, apresentar um agravo de instrumento contestando a decisão da Justiça e demonstrando que tem quitado seus vencimentos junto aos principais fornecedores.
“Vamos recorrer da decisão. Fomos pegos de surpresa. Estamos analisando as alternativas”, disse Herz. “Entendemos que há outras soluções mais apropriadas à empresa hoje, buscando sua recuperação e não sua falência.”
Se em 2018, quando solicitou a recuperação judicial, a Cultura detinha 17 unidades físicas, esse número foi caindo com o passar do tempo: em 2021 eram sete; hoje são apenas duas, a sua tradicional unidade no Conjunto Nacional, em São Paulo, e outra em Porto Alegre (RS). A principal causa para ter devolvido alguns pontos foi a queda no fluxo de consumidores posterior à chegada da pandemia de Covid-19 no país. Nos últimos tempos, a Cultura firmou parcerias para promover eventos e feiras itinerantes em suas unidades remanescentes
Já na PublishNews, foi publicado que o juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do TJ-SP, Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, decretou nesta quinta-feira (9) a falência da Livraria Cultura. Ele afirmou que o grupo não teve êxito em superar a crise que se arrasta, pelo menos, desde 2014. No plano de recuperação judicial inicial, a Cultura apresentava dívidas que chegavam a R$285 milhões.
O CEO da Livraria Cultura, Sérgio Herz, disse ao PublishNews que vai analisar a decisão. “Mas pretendemos recorrer pois entendemos que há outras soluções mais apropriadas à empresa hoje, buscando sua recuperação, que não a falência”, escreveu em uma mensagem.
Na decisão, o juiz afirmou que “é notório o papel da Livraria Cultura, de todos conhecida. Notória a sua (até então) importância, e não apenas para a economia, mas para as pessoas, para a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral”, escreveu o juiz na decisão. “É de todos também sabida a impressão que a Livraria Cultura deixou para o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, que a descreveu como uma linda livraria, uma catedral de livros, moderna, eficaz e bela. Mas a despeito disso tudo, e de ter este juízo exata noção desta importância, é com certa tristeza que se reconhece, no campo jurídico, não ter o Grupo logrado êxito na superação da sua crise”.
O juiz ainda destacou que em mais de uma ocasião a empresa deixou de prestar as informações necessárias para comprovar o cumprimento do plano de recuperação judicial, que não cumpriu os compromissos com o Juízo e com a Administradora Judicial, “beirando o descaso”. “As respostas aos questionamentos sempre se mostraram genéricas, imprecisas ou não foram apresentadas, obstaculizando o andamento dos trabalhos”, diz a sentença.
Também foram citados créditos trabalhistas que deveriam ter sido quitados até junho de 2021 e não o foram. O juiz menciona dívida de cerca de R$800 mil com a administradora e de cerca de R$1,6 milhão no total, sem previsão de pagamento.
“Assim, é caso de convolação da recuperação judicial em falência, pois as Recuperandas descumpriram o aditivo ao plano de recuperação judicial, não prestaram informações de maneira completa, não se verificando, pois, perspectiva (e em verdade tampouco diligência por parte dos interessados) para a superação da crise evidenciada”, conclui.
A sentença prevê a venda de bens móveis e imóveis, o bloqueio de ativos financeiros, veículos e imóveis.
No processo da Recuperação, a Cultura havia alegado como motivos a crise econômica enfrentada pelo país “desde meados de 2014”, a queda da demanda por livros, e o aumento nos custos de produção – que levou à estagnação de preços e a redução das margens de lucro e faturamento.
Mesmo após três movimentos importantes em 2017 – a aquisição da operação brasileira da Fnac, a aquisição da Estante Virtual e uma parceria de vendas com o Mercado Livre –, a empresa foi obrigada a pedir Recuperação Judicial em 2018. Outra razão foi o seu endividamento com os bancos, sempre com taxas de juros elevadas.
O Plano inicial foi aprovado pelos credores em abril de 2019, mas com a pandemia a Cultura pediu alterações. Após uma série de imbróglios judiciais e decisões favoráveis à rede, ainda houve o descumprimento de prazos de pagamentos. A própria administradora judicial relatou ao juízo “indícios de fraudes em movimentações financeiras realizadas por sócios da empresa”. Entre 2020 e 2021, algumas empresas já haviam solicitado a falência da Cultura.
O PublishNews entrou em contato com a Livraria Cultura e o espaço está aberto para a manifestação da rede.
Fonte: Revista VEJA e PublishNews.
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