Quero começar este capítulo compartilhando algo pessoal com você. Como mulher que
trabalha há anos na área de ESG e sustentabilidade, enfrentei diversos desafios ao longo
da minha jornada de liderança. E hoje, quero abordar esses desafios de forma aberta e
inspiradora, na esperança de que possamos aprender e crescer juntas.
Desde os primeiros passos na carreira até os desafios mais complexos enfrentados nos
altos escalões das organizações, cada etapa foi marcada por uma batalha constante contra
as barreiras culturais e estruturais que moldam nosso ambiente de trabalho. Com formação
em biologia, construí minha carreira em um ambiente dominado por homens, desde obras
de infraestrutura em áreas remotas até mesmo em ambientes corporativos, como
associações comerciais. Defender meus valores e ideias relacionados à sustentabilidade
exigiu muita coragem e determinação, mas com o apoio e tendo bons exemplos femininos,
foi possível superar esses desafios.
É fato que nós mulheres, no caminho rumo à liderança em iniciativas de ESG e
sustentabilidade, enfrentamos barreiras culturais e estruturais nas organizações. Em um
mundo onde o paradigma da liderança ainda é predominantemente masculino, muitas vezes
lutamos contra sistemas e crenças que resistem à nossa ascensão. Essas barreiras não
são apenas tangíveis, mas também internalizadas.
Apenas uma mulher compreende quando comentamos que mudamos o estilo de roupa para
trabalhar em uma empresa específica, optando por roupas que mostram menos o corpo e
tons menos chamativos, tudo para evitar se destacar entre os demais. Somente uma mulher
entende, quando entramos em um ambiente, precisamos avaliar o contexto e achar
segurança em expressar nossas opiniões. Cuidamos para nos relacionar com colegas de
trabalho para evitar mal-entendidos sobre nossas intenções. Até mesmo diante da
necessidade de um filho ou marido, nos vemos diante da difícil escolha entre continuar a
trabalhar ou atender à urgência familiar. Como consultora, muitas vezes ao chegar em um
novo cliente, outras mulheres nos comunicam de quais homens devemos nos policiar; ao
conversar. Realidades que apenas uma mulher entende.
Nós mulheres somos constantemente confrontadas com estereótipos de gênero e
preconceitos que nos relegam a papéis secundários, minando nossa capacidade de
influenciar decisões estratégicas, especialmente aquelas relacionadas à sustentabilidade.
Além disso, as estruturas organizacionais frequentemente refletem e perpetuam esses
preconceitos. Culturas corporativas fortes podem resistir à mudança e à inclusão, tornando
difícil para as mulheres garantir que suas vozes sejam ouvidas e suas ideias
implementadas.
Um dos principais obstáculos que as mulheres enfrentam é o viés de gênero, que pode
distorcer a percepção de suas capacidades e competências. Como, por exemplo,
subestimar ou menosprezar o valor do trabalho realizado por mulheres, mesmo quando é
igual ou superior ao dos homens; ou a velha percepção de que as mulheres são menos
comprometidas com suas carreiras devido à possibilidade de engravidar e cuidar dos filhos.
Estes estereótipos que ainda prevalecem, criando barreiras para nossa ascensão e
reconhecimento como líderes eficazes em questões de sustentabilidade e prejudicando
assim sua influência na tomada de decisões relacionadas ao ESG.
Além disso, a falta de representatividade feminina nos altos escalões das organizações é
um problema persistente. A sub-representação das mulheres em cargos de liderança limita
sua capacidade de moldar políticas e práticas empresariais, incluindo aquelas relacionadas
à sustentabilidade. Sem uma presença significativa nos processos decisórios, as mulheres
enfrentam dificuldades em garantir que suas perspectivas e prioridades sejam devidamente
consideradas. Muitas vezes, as mulheres são deixadas de fora de círculos de influência e
decisão, resultando em uma lacuna de apoio e mentoria crucial para o avanço profissional.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, de 2012 a 2022 tivemos o avanço de menos de 2%
de mulheres nos cargos gerenciais, e as maiores remunerações seguem com os homens.
Como consultora em ESG, trabalhando diretamente com a alta direção das organizações,
posso afirmar que esse cenário está longe de mudar. Em nossos diagnósticos realizados
para os clientes, não nos surpreendemos ao constatar que a alta gestão é
predominantemente composta por homens. Mesmo em empresas familiares, essa realidade
ainda prevalece. As mulheres e filhas dos fundadores frequentemente não têm participação
na direção da empresa, ou, quando têm, ocupam cargos tradicionalmente associados às
mulheres, como financeiro ou gestão de pessoas, ou são subalternas de cargos de
liderança.
Apesar desses desafios, estamos buscando nos destacar e quebrar esses estereótipos
estabelecidos. Mas como fazer isso, sem um autojulgamento? Quantas vezes você já
controlou o pensamento ou sua voz para evitar conflitos? Como promover mudanças? À
medida que mais mulheres ocupam posições de liderança e demonstram sua competência
e comprometimento, as organizações estão começando a reconhecer o valor da diversidade
de gênero em suas fileiras.
Para superar esses desafios, é de extrema importância criar um ambiente inclusivo e
igualitário, onde as mulheres sejam valorizadas e respeitadas como líderes. Isso requer o
combate ativo aos estereótipos de gênero e a promoção da diversidade nos altos escalões
das organizações. Além disso, é fundamental fornecer às mulheres acesso a redes de apoio
e mentoria que possam capacitá-las a enfrentar os desafios únicos que enfrentam como
líderes de iniciativas de sustentabilidade e ESG.
À medida que conquistamos nosso lugar de direito nas lideranças, trazemos conosco uma
visão diferenciada e valiosa, que pode impulsionar a agenda de sustentabilidade para
frente. Portanto, é essencial reconhecer que, ao enfrentar esses desafios, nós mulheres não
estamos apenas avançando em nossas carreiras, mas também promovendo uma mudança
significativa no meio corporativo e na sociedade como um todo. É crucial que continuemos a
nos apoiar e capacitar outras mulheres em suas jornadas de liderança, fornecendo as
oportunidades necessárias para prosperarem. Isso é sustentabilidade, isso é ESG!
Que esta reflexão sirva como um lembrete do poder e da importância que nós mulheres
temos nas lideranças de iniciativas de ESG e sustentabilidade, inspirando a todas nós a
continuar trabalhando juntas para construir um mundo melhor para as gerações presentes e
futuras.
Até a próxima publicação.
Priscila Brustin
priscila@biolist.com.br
Bióloga, especialista em Gestão Ambiental e mestre em Sustentabilidade. Autora e Coordenadora da
Certificação ODS. Apresentadora do Podcast Sustentabilidade Estratégica. Diretora na Biolist Soluções
Sustentáveis. Coordenadora de Projetos do Movimento Nacional ODS de Maringá/PR. Especialista do GT
Desenvolvimento Sustentável da Rede Governança Brasil em Brasilia/DF. Líder do Climate Reality
Project Brasil no Paraná.
Referências:
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Até a próxima publicação.